Já se foi um ano em isolamento social com idas e vindas do ensino remoto ao ensino híbrido e, ao longo desse processo, um livro tem me acompanhado e chamou por mim: Ensinando a transgredir de bell hooks.
Desde março de 2020 a prática pedagógica teve que ser repentinamente reinventada e a sala de aula das escolas particulares se expandiu. Os papéis de todos os atores do processo escolar foram redesenhados. Ninguém estava pronto para isso e ninguém até hoje tem a receita da situação.
Eu e qualquer colega de profissão, estando ou não consciente nesse processo, tem se desdobrado para manter os ânimos elevados e conseguir engajar alunos à distância.
Um peso gigantesco caiu sobre nós, professores. Engajar alunos não é tarefa fácil nem no ensino presencial, mas bell trouxe um afago para minha práxis ao afirmar que
“é raro que qualquer professor, por eloquente que seja, consiga gerar por meio dos seus atos um entusiasmo suficiente para criar uma sala de aula empolgante. O entusiasmo é gerado pelo esforço coletivo.“
Ela conta até o caso de uma turma que não conseguiu engajar ao longo de sua disciplina e, mesmo levantando hipóteses sobre as razões para isso (reflexão necessária e constante para professores) ela conta que
“essa turma, mais que qualquer outra, me levou a abandonar de vez a ideia de que o professor, pela simples força de sua vontade e desejo, é capaz de fazer da sala de aula uma comunidade de aprendizado entusiasmada.“
É ilusório pensar que somos lineares e esperar que o mundo ao nosso redor assim se comporte. As vezes nós não conseguiremos o melhor resultado, as vezes por nossa causa, as vezes por falta de apoio da comunidade escolar, as vezes por que os alunos não estão disponíveis. Isso é esperado! Apenas continue dando o seu melhor e refletindo sobre a sua prática, alterando o que achar necessário pra a próxima aula.
Àqueles que ainda acreditam que um professor pode, sozinho, ser responsável pelo engajamento de toda uma turma eu apenas digo: essa busca é constante e também coletiva.
Referências: Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade, de bell hooks, pseudônimo de Gloria Jean Watkins, autora, professora, teórica feminista, artista e ativista social estadunidense. Editora WMF Martins Fontes, 2017.